O vento trouxe nuvens pesadas para as suas cabeças. O tempo tornou-se
sombra, escondendo o amarelo vivo do sol. De repente pingos grossos caídos do
céu açoitava a terra. O quintal ficou livre de gente, deixando mais espaço para
as outras vidas. As folhas das árvores se molhavam e se agitavam frenéticas, deixando
escorrer pelos seus troncos a água celeste carregada de energia.
O cheiro da terra molhada invadiu a casa trazendo a todos os
exilados, paisagens puídas, onde pé descalço era símbolo de liberdade.
Os mais velhos contavam casos antigos, relembrando as
peripécias do outro como se estivessem relatando o segredo mais profundo. Riam as gargalhadas como se a chuva que caia torrencialmente
não estivesse logo ali depois da janela. As crianças, inclusive o gato, permaneciam paralisadas – quase estátuas
- ouvindo silenciosamente cada palavra existente. Descobrindo em histórias contadas que aqueles
rabugentos de agora já foram, um dia, crianças peraltas como elas.
A chuva passara. O cheiro se dissipara e as histórias foram
interrompidas pelo arco multicolorido formado num céu limpo de nuvens. A farta
mesa do café da tarde continuara posta. Todos voltaram para o quintal para
presenciar o fim do dia. Menos o gato que continuou deitado no sofá sem
entender nada do que acontecera naquele ambiente agora silencioso e
absolutamente vazio.
8 comentários:
Belíssimo conto com nuances encantadoras ao narrar com soberba os efeitos da chuva
E o gato pôde desfrutar do silêncio mesmo que não tenha compreendido o motivo
Um abraço
Cheiro de terra molhada
Ventos
Tempos
Tanto há
Lá coments sobre seu coment cinéfilo
;)
Conto maravilhoso e pude sentir até o cheirinho bom da terra molhada! Lindo te ler! bjs, chica
Delicioso conto, adoro o cheiro de terra molhada.
Gostei
Beijinhos
Foi tao bom de imaginar.. mas sabes uma coisa...neste momento e com este tempinho, preferia estar como o gato :D
Boa tarde, a imagem não abriu, a historia muito bem publicada agradável.
AG
Que lindo, me fez lembrar do tempo em que era tudo terra,nas ruas,nos quintais, quando chovia as águas se infiltravam e logo tudo ficava bem, sem nenhum alagamento!
Minha infância aqui em São Paulo, bem na Capital onde ainda moro, era bem linda!
Hoje chove e não há por onde as águas saírem, asfaltos e lixos jogados,entopem tudo, ainda tenho um quintal lindo que preservei, mas do portão para fora as coisas são diferentes, minha linda Sampa de outrora ficou na saudade!
Amei ler, adoro chuva, imagino a confusão na mente do lindo gato cinzento dos olhos azuis!Acho que gato pensa, todos os bichos pensam e o homem se acha o dono do mundo!
Abraços, divaguei um pouco por aqui.
Ah que texto gostoso!!! Me perdi nos detalhes, fiquei com fome com a mesa posta! Senti como se fosse uma convidada da família ao ler os trechos em que as crianças ouviam das suas prévias gerações!!!
Bateu saudade do Brasil !
Bjos!
Querido Deus,obg por me exportar!
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