Sou um felino doméstico. Vagabundo ou não, ando por aí.
Adoro muros e telhados alheios.
Namoro de madrugada – a lua e a gata.
Faço poesia e muita prosa.
Sou cinzento na cor e colorido na alma.

16/07/2016

Estranheza




- ¨ Aqui há escassez de muitas coisas... Falta o verde natural das coisas. Sem o verde, não teremos do que dele necessitamos.  Aqui há excesso de concreto. Abstratas somente as nuvens quando cismam em correr. Assustou-me as alturas dos prédios quando por aqui cheguei. Corri os olhos à procura do céu e deparei-me com uma carreirinha de pombos no fio de luz. Achei graça na hora. Mas ainda não tinha assistido ao filme de Hitchcock. ¨
Ouvia, quase em silêncio, a senhora gorda de cabelos brancos, sentada ao meu lado na poltrona do coletivo.  Limitava-me a um simples aceno de cabeça entre uma respiração e outra. Pensava como tinha fôlego e assunto pra falar sem parar. Às vezes, por uma questão de educação, esticava a minha boca como se eu estivesse sorrindo pra ela. Uma técnica aprendida desde cedo, ainda na escola. Ao descer do coletivo sorri de verdade um sorriso de alívio. Olhei para cima e não vi nada além de concreto armado. Abaixei a cabeça e sorri um sorriso de angustia. De angustia...



2 comentários:

Gracita disse...

O cenário causa estranheza aos olhos acostumados com o verde das campinas onde se respira com magia a doce poesia. Bela prosa em palavras soberbas que lhe trouxe aos lábios um sorriso de angústia
Venho agradecer o carinho e deixar um afetuoso abraço
Vou dar uma pausa nos blogs para curtir o recesso escolar
Volto em breve! Até a volta!
Beijokas doces no coração

Dilmar Gomes disse...

Texto poético, amigo. Bela maneira de descrever a "selva de pedra" em que se transforam, esteticamente, as megalópoles modernas
Um abraço daqui do sul do Brasil. Tenhas uma ótima semana.